Mobilidade urbana no Brasil: panorama e principais desafios!

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A mobilidade urbana no Brasil interfere no dia a dia das pessoas e, como efeito, no ambiente de negócios. Esse cenário tem relação direta com a complexidade de gerir as demandas que surgiram de um quadro de falta de planejamento urbanístico de longa data.

De qualquer maneira, trata-se de um assunto de extrema importância para o desenvolvimento que se apresenta repleto de desafios para que se possa atingir um melhor patamar. Assim, é preciso entender a questão em sua totalidade.

Para isso, confira o panorama geral no país no post abaixo.

A complexidade da mobilidade urbana no Brasil

Com 85% da população vivendo em grandes centros urbanos — 36 cidades com mais de meio milhão de habitantes e 40 regiões metropolitanas —, não há como negar que as questões da mobilidade urbana no Brasil são amplas e variadas.

Isso porque estamos falando de um país complexo em que há diferenças geográficas, culturais e econômicas que geram um cenário de:

  • rápida transição populacional do campo para as cidades, acarretando um crescimento desordenado e desregulado dessas últimas;
  • surgimento de aglomerados urbanos irregulares e fora do planejamento de rotas de transporte público, por carência de moradia digna;
  • avanço acelerado das periferias devido ao encarecimento dos custos de habitação nos centros;
  • falta de integração entre modais ou das linhas em municípios que compõem a mesma região metropolitana;
  • acúmulo de postos de trabalho presenciais em locais cada vez mais populosos e em bairros distantes dos residenciais;
  • facilidade de financiar e comprar veículos, bem como de aumento de sua oferta pelo incentivo a produção;
  • sucateamento da infraestrutura e elevação de preços, que tornam os coletivos menos interessantes.

Em consequência, o Índice da Qualidade da Mobilidade Urbana (IQMU) medido pela FGV em setembro de 2022 indicou que 63,2% dos usuários consideram esse tópico em sua cidade ruim ou péssimo.

Não à toa, já que um estudo da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e do Sebrae, realizado no mesmo ano mostra que 32% das pessoas gastam de uma a duas horas para se locomover diariamente.

Desafios decorrentes desse panorama

Com esse panorama, a mobilidade urbana no Brasil enfrenta uma série de desafios. A seguir listamos os mais importantes e urgentes!

Infraestrutura, planejamento e estratégias

Um dos pontos-chave para entender a questão da mobilidade urbana no Brasil está na realidade das vias e passeios. Se, por um lado, há mais veículos circulando, por outro não houve o devido desenvolvimento de ruas e ciclovias para atender essa demanda ou promover alternativas.

O estudo de características urbanísticas de 2010 do IBGE indica que 81,7% dos domicílios contam com pavimentação, 69% possuem calçadas, 77% têm meio-fio, 96,3% iluminação pública e 4,7% rampas.

Ou seja, ainda há o que ser feito. Entre os desafios, destaca-se a inexistência de algumas dessas estruturas e, quando existem, não são acessíveis, apresentam áreas de circulação muito estreitas ou estão malcuidadas.

Seus impactos incluem a redução da velocidade de tráfego, menos condições para o uso de transportes alternativos e para a implementação de ciclovias ou corredores exclusivos de ônibus, falta de segurança para andar ou esperar em uma parada/estação, entre outras situações que agravam as dificuldades.

Esse contexto atinge principalmente as populações de baixa renda. Ele ocorre pela ausência de planejamento quando essas regiões estavam se desenvolvendo, de estratégias para lidar com esse quadro atualmente e de recursos.

Para responder a esse cenário, estão previstos R$ 610 bilhões em investimentos nas cidades. Nesse valor, está inclusa uma parcela para a modernização desse elemento com foco na sustentabilidade, na ampliação do acesso a condições nas áreas pobres e na prevenção de acidentes naturais.

Meios de transporte

Os meios de transporte são outra parte dos desafios que a mobilidade urbana no Brasil enfrenta. Afinal, se a quantidade de veículos cresce e a infraestrutura não evolui para comportá-los, cria-se um problema. 

Nesse cenário, o ponto de inflexão está na elevação da utilização de opções individuais nos últimos anos somado aos problemas do transporte coletivo que afastam os potenciais usuários, e a maior oferta deles em modais rodoviários que sobrecarregam as vias das cidades.

A lógica nesse caso é simples: quando o transporte público é ineficiente, mais pessoas optam por carros ou motos. De acordo com o Ipea, 45,53% das famílias têm despesas com algum meio de locomoção coletiva, enquanto 71,37% com opções individuais. O mesmo estudo demonstrou uma queda de 18,9% no uso do primeiro e um aumento de 16,1% do segundo, no período de 2008 a 2017. 

Além disso, são os ônibus que atendem 90% dessa demanda que restou, e suas alternativas, como sistemas metroferroviários, têm altos preços de implementação, podendo custar de R$ 200 a R$ 500 milhões/km

Diante disso, estima-se em R$ 295 bilhões o valor a ser investido até 2042 para melhorar essa questão somente nas 15 maiores regiões metropolitanas, sendo 271 milhões para metrôs e aproximadamente 15 milhões para trens. Atualmente, há uma expectativa de aplicação de R$ 33 bilhões até 2026 para construir linhas de metrô e corredores exclusivos de ônibus.

Poluição e sustentabilidade

Outro efeito da ampliação da quantidade de veículos individuais circulando e da queda no uso do transporte coletivo é a poluição. Ainda que, segundo o Ipea, um carro emita 0,19 kg de CO2 por km e um ônibus 1,28 ou um metrô 3,16, o número de pessoas que esses últimos dois conseguem levar é muito maior, diluindo tal impacto.

Contribui para a questão da mobilidade urbana no Brasil o elevado consumo de energia desses sistemas ser um desafio quanto à sustentabilidade, à medida que suas fontes também podem ser poluentes.

Nesse sentido, uma transição está em andamento. Só a Volkswagen vai investir R$ 16 bilhões até 2028 no Brasil para produzir novos modelos de um portfólio com opções híbridas e 100% elétricas. A expectativa é que o setor aporte R$ 41 bilhões.

Impactos econômicos da mobilidade urbana no Brasil

Desenvolver a mobilidade urbana no Brasil cria uma série de oportunidades para os diversos setores da economia. A produção de veículos elétricos e a de combustíveis alternativos são apenas dois exemplos. 

Mas, para além do progresso das áreas que trabalham diretamente com isso, há melhorias em outros segmentos que podem ser alcançadas por tal cenário. Dessa forma, investir nisso é importante para todos os negócios.

A começar pelo aumento da produtividade dos trabalhadores que não precisam passar horas no transporte para chegar aos seus empregadores. Esse ganho gera a ampliação da eficiência e da inovação

Outro efeito econômico positivo é obtido a partir da redução da pobreza, alcançada com maior acesso a empregos melhores e menos dinheiro gasto para se locomover. Nesse caso, com essas pessoas consumindo mais, a demanda produtiva cresce, mais postos de trabalho são gerados, recomeçando o ciclo que é positivo em todo o mercado.

A melhoria da mobilidade urbana no Brasil tem um panorama desafiador que, no entanto, cria oportunidades que impactam positivamente tanto a sociedade quanto ao mercado. Dessa forma, trata-se de uma área que precisa receber investimento e atenção.

Para entender melhor quais ações podem ser tomadas, confira o conteúdo sobre o que esperar para o futuro da mobilidade!

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